13 de setembro de 2013

Resenha: O Rei do Inverno


                                        

Livro: O Rei do Inverno
Autor: Bernard Cornwell
Editora: Record
Páginas: 546

Após a criação de novas versões de um grupo seleto de personagens a todo o momento, é natural que o universo fictício em questão fique extremamente saturado e previsível. Contudo, apesar das várias versões existentes para a lenda do Rei Arthur, o Rei do Inverno, primeiro livro da trilogia As Crônicas de Artur, consegue escapar ileso de quaisquer preconceitos, pois oferece ao leitor uma visão do maior monarca de todos os tempos e os seus amigos de uma forma completamente diferente do usual. O autor Bernard Cornwell, conhecido por seus romances históricos, nos presenteou com uma versão extremamente possível do maior mito da Grã-Bretanha, tentando conciliar o real, através de recentes de descobertas arqueológicas, e a ficção. 



Analisando de uma forma geral, o primeiro livro das Crônicas de Artur, assim como os outros dois componentes da trilogia, não trata especificamente de Artur, mas sim de Derfel, seu fiel amigo e cavaleiro. O acompanhamos desde a sua infância até os seus últimos e tenebrosos dias, em que acaba se tornando um monge cristão. O que temos em nossas mãos é o relato de todos os acontecimentos relacionados a Artur que será entregue para a Rainha Igraine de Powys, que é extremamente fascinada pelos elementos da Camelot lendária; porém, Derfel não se importa em descrever as coisas como elas realmente foram, mesmo sabendo que os seus registros provavelmente serão alterados. Desmitificando completamente as características fantásticas da lenda de Artur (inclusive a magia, algo que é mais desenvolvido nos outros dois livros), o protagonista nos apresenta ao reino de Dumnonia da Britânia, governado pelo Grande Rei Uther, que tem autoridade sobre todos os outros reinos das proximidades. Contudo, estando já velho e tendo seu herdeiro morto em batalha, o Rei aposta o futuro de sua linhagem em seu neto recém-nascido, Mordred. 

Antes de sua morte, Uther denomina alguns guardiões que deveriam zelar pela segurança e reina próspero de seu neto, estando entre eles, contra a vontade do Rei, o seu filho bastardo Artur, um renomado guerreiro, possuindo um caráter fortemente bondoso e exemplar, sendo algo que destoa da realidade mais crua do Período Medieval, e talvez seja por isso que no decorrer dos capítulos Artur consegue fazer com que muitos se rendam ao seu carisma e justiça, inclusive Derfel, que passa a querer ser um dos cavaleiros de Artur já desde a primeira vez em que o vê. Em O Rei do Inverno, acompanhamos o saxão órfão Derfel desde jovem, período de sua vida em que vive como um dos protegidos do druida Merlin, até seu estabelecimento como guerreiro de Artur, assim como todo o seu envolvimento nos conflitos entre os reinos vizinhos, guerreando sempre pela paz e estabilidade da Britânia, semelhantemente ao lendário pacificador que nunca foi rei (divergindo novamente do usual), o propagador de tais ideais. 

É óbvio que o livro é mais complexo do que pareceu na sinopse acima: as reviravoltas estão bem presentes na trama, e as personagens adoradas e as odiadas também. Contudo, diferentemente dos livros medievais mais crus, As Crônicas de Artur possuem aquele velho clima das obras fantásticas, porém oscilando entre os acontecimentos chocantes e os momentos previsíveis. Por exemplo, vemos Nimue realizando feitiços horrendos para um livro clichê de fantasia, como também é possível encontrar passagens em que o romantismo e o amor açucarado marcam presença. Seguem abaixo algumas passagens que exemplificam as duas faces da obra:

Passagem I – O “feitiço” de Nimue.

Nimue passou pela porta, e até estremeci ao ver minha amiga. Ela estava nua, seu corpo branco e magro coberto de sangue pingava do cabelo e escorria em riachos, passando pelos seios pequenos e descendo pelas coxas. A cabeça estava coroada por uma máscara de morte, a pele bronzeada das feições de um homem sacrificado, empoleirada sobre seu próprio rosto como um capacete que rosnasse, e presa no lugar pela pele dos braços do morto amarrada ao pescoço fino.

Passagem II – Descrição de Ceinwyn, a musa inspiradora de Derfel.

Os anos não a haviam mudado. Seu rosto era tão doce, seus modos tão recatados, seu cabelo tão brilhante e o sorriso tão lindo como antes.

Ou seja, O Rei do Inverno pode ser degustado por qualquer um que aprecie os dois opostos das obras fantásticas, pois o autor faz uso das duas vertentes de uma forma equilibrada e sensata, sem enveredar por nenhuma delas de uma maneira fixa. Outra característica do livro que é muito bem trabalhada são as batalhas, sendo descritas de uma forma tão perfeita que é possível se sentir entre as paredes de escudos, um dos grandes méritos do autor.  Então, se a literatura medieval e aventureira faz o seu tipo, não perca tempo e explore esta bela obra de Bernard Cornwell                                                                       
                                                                                                                                       
Comentários
2 Comentários

2 comentários:

  1. Oi, Gabriel. Gostei da sua resenha. Esse livro é mesmo ótimo e consegue dar uma vida nova aos personagens das lendas do Arthur. Gosto muito da forma como o autor descreve não apenas as batalhas, mas todos os rituais e costumes da época medieval em que a história se passa. Ah, escrevi uma resenha sobre esse livro na minha coluna no RandomCast. Dê uma olhadinha: http://randomcast.com.br/na-estante-as-cronicas-de-arthur-volume-1-o-rei-do-inverno/ e me diga o que achou! :)
    Beijos,
    Niki,
    http://www.meigaemalefica.blogspot.com
    http://www.randomcast.com.br

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    1. Oi. :)

      O livro é muito bom mesmo, inclusive a capa que eu não mencionei no post. haha

      Vou ler a sua resenha. ;)

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