17 de agosto de 2013

Resenha: Memórias Fictícias


Livro: Memórias Fictícias
Autora: Carina Corá
Editora: Novos Talentos da Literatura Brasileira
Páginas: 207

Novos escritores surgem a cada dia. Muitas vezes apenas para pegar carona em algum livro de sucesso, outros com alguma boa ideia que não é bem desenvolvida. Mas, no meio de todos eles, sempre há um escritor talentoso, trazendo uma história que pode surpreender até o leitor mais crítico. Este é o caso de Carina Corá, e suas memórias fictícias.
"A casa rangia. O barulho da chuva no telhado não me permitia voltar a dormir. A escuridão do quarto fazia-me ficar em estado de alerta. Eu tivera um sonho conflituoso e ao mesmo tempo mágico, somente me lembro da figura eminente de uma torre, uma torre de paredes nuas, sem janelas. Alguém me chamava de lá, alguém pedia socorro. De repente, apareceram dois grandes olhos. Olhos como eu jamais vira antes. Não vou contar-lhe o que vi neste sonho, pois não é o momento certo para tal revelação."

O que Memórias Fictícias tem de tão tentador? Para começar, não podemos julgar alguém que tenha se interessado em ler o livro apenas pela sua capa, sua cor amarronzada que produz a impressão de algo velho e guardado, como se houvesse um segredo por trás daquelas páginas. E isto é o que o torna tão tentador; Os segredos.

A autora Carina Corá começou a escrever Memórias Fictícias quando estava no início do ensino médio, publicando-o em 2012, pela editora Novos Talentos da Literatura Brasileira. Apesar de muito nova, Carina se mostra uma escritora talentosa, conseguindo nos conduzir pelas páginas de seu livro, tornando quase impossível parar de ler antes de todas as páginas acabarem.

O livro conta a história de Coralina de Lilá, uma adolescente que se vê na obrigação de se mudar, junto com sua mãe, para casa de uma freira, Bianca Giacomina. Ao chegar na casa, que por si só já transmite uma sensação de grande mistério, Coralina sente-se irritada por ter que morar em tal lugar sem nem ao menos saber o motivo, mas sua mãe lhe assegura que em breve ela irá descobrir. Porém, o que realmente a deixa intrigada é uma torre que a casa possui, parecendo com algo que não pertence àquele lugar. Então Coralina finalmente descobre a entrada para a torre, e nela encontra-se um quarto, onde vive Érus, um menino misterioso que apresenta a Coralina o seu maravilhoso mundo.

 "Não é por você ser fria, Coralina, que você prova que é grande."

A história é narrada em primeira pessoa e contada do ponto de vista de três personagens diferentes, o que nos permite conhecer melhor a personalidade de cada um e o mundo criado por Érus. A habilidade da autora em espalhar mistérios no livro inteiro é surpreendente, fazendo com que muitos detalhes apareçam na obra, o que nos leva a pensar que é apenas uma ponta solta, mas no final todas as pontas se amarram, criando uma história concreta, enquanto seu clima é sombrio, lembrando um episódio da série American Horror Story.

Mas seu ponto alto é o lado filosófico que o livro mostra para o leitor, levando-o a refletir sobre assuntos como a existência, religião e liberdade. Seus personagens são reais e sinceros, mostrando uma freira que não sabe se realmente possui uma fé, uma mãe tentando dar o melhor para sua filha para evitar que esta passe pelas mesmas angústias que ela passou, e uma adolescente em busca de respostas para manter sua vida em ordem e conseguir a realidade da ficção.

Memórias Fictícias é o tipo de livro que dá um tapa na cara dos leitores que julgam escritores nacionais antes de ler algum livro de sua autoria, sendo muito mais do que promete em sua sinopse. Um livro recomendado para quem gosta de uma leitura rápida e com conteúdo de qualidade, apresentando uma narrativa direta e sem enrolações superficiais, envolvendo o leitor a mergulhar em seu universo repleto de segredos guardados por seus personagens.



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