Olá para todos. Hoje venho com algo um pouco mais diversificado do que as minhas antigas postagens, mesmo que estas tenham sidas, por si mesmas, bem diferentes. Por mais breve que seja o tempo de existência do blog, ele já conseguiu adquirir um certo reconhecimento e já possui um devido público, e por isso quero mostrar um conto para vocês. Irei aproveitar o espaço do blog e postar um conto de minha autoria que deixei guardado no baú por mais ou menos um ano. Ele foi escrito totalmente baseado na banda de rock progressivo Pink Floyd, para quem já assistiu o filme da banda, The Wall, conseguirá notar algumas semelhanças entre este personagem e o do filme, mas não é a única referência, também acrescentei várias passagens, tanto com os nomes dos álbuns da banda quanto de trechos das próprias músicas. Espero que gostem :D.
Um momentâneo lapso de razão
Acendi um
cigarro.
Apenas
acendi e deixei-o apoiado sobre o cinzeiro.
Permaneci
sentado.
O vento
gelado entrava pela porta de vidro da minha varanda, fazendo com que as
cortinas dançassem, como se esse fosse o motivo delas estarem ali.
Mas não me
movi.
Tudo que eu
conseguia fazer naquele quartinho imundo da minha casa de quatro cômodos era
fitar a minha cama. A nossa cama. A cama em que nós juramos amor eterno um ao
outro. A cama que agora não passava de um amontoado de roupas e lençóis
amarrotados sobre o meu suor frio de todas as noites.
Então um
momentâneo lapso de razão passou pela minha cabeça.
Levantei-me
lentamente, como se todo o mundo tivesse parado para assistir um fracassado com
a barba suja fazer um único movimento. Meu corpo inteiro tremia, como se os
meus ossos não me aguentassem.
Caminhei em
direção à minha cama. A nossa cama.
Caí de
joelhos como se tivesse sido arrebatado pelo fio cortante de uma espada em
minhas costas.
Apertei os
lençóis contra o meu corpo com tanta força, como se nada naquele mundo pudesse
intervir entre nós.
Rolei para a
direta da cama até sentir meu ombro batendo sobre o chão molhado pela água do
banheiro. Porém, segurava os lençóis como se fossem relíquias.
Arrastei-me
até a parede e ia me empurrando contra a ela até ficar de pé.
Repentinamente
ouço barulhos de passos na varanda, que penetraram em meus ouvidos como se fosse o som da divisão de um sino.
“Tem alguém
ai fora?”
“Vera?”
“Vera, você
está aí?”
Tomado pelo
choque do momento, corri em direção à varanda, parecendo uma criança correndo
em direção a árvore na manhã de natal.
Eram apenas
dois cachorros.
Dois animais
andando pela varanda e indo embora, levando com eles a minha vazia esperança
de tê-la de volta. Senti-me sozinho, como um flautista nos portões da
madrugada.
Atirei-me à
grama molhada de orvalho, arrancando-as pela raiz. Aquilo parecia terapêutico.
O céu estava
obscuro pelas nuvens. Mas conforme as nuvens iam se movimentando, eu conseguia
ver a bela imagem da lua. Parecia a primeira vez que via a lua desde que ela me
abandonou.
Desde o dia
que ela saiu de meus braços.
A luz do
luar entrou em mim.
Esticava
meus braços.
Queria
alcançá-la.
Por mais
distante que ela estava de mim, mais queria senti-la.
O que via
não era o bastante, queria explorá-la, queria conhecer o lado negro da lua,
queria pisar sobre seu chão arenoso e vasculhar suas rochas.
Mas sabia
que tudo isso era impossível. Impossível como se houvesse um muro invisível que
o impedia.
“Vera.”
“Vera.”
“O que
aconteceu com você?”
“Por que me
abandonou? Não me deixe agora.”
Pus-me de
cócoras, levantei com um salto e me arrastei para dentro, sem tirar os meus pés
do chão.
Este é o
corte final.
Joguei-me,
novamente, na cadeira de armar.
Meu cigarro
já havia apagado.
Acendi
outro, e coloquei-o sobre o cinzeiro.
Olhei para o
chão e localizei o jornal amassado, da semana anterior, que eu havia lançado
pelos ares.
Desamassei-o
e li a pagina do obituário.
Uma lágrima
escorreu pelo meu rosto.
Como eu
queria que você estivesse aqui.
Oi Mikael, que conto ótimo! Adorei o post... No meu blog toda quinta tem uma crônica, acho muito gostoso divulgar esse tipo de texto!
ResponderExcluirAbraços, Isabela.
www.universodosleitores.com
Muito bom o conto e o blog também. Parabéns!
ResponderExcluirTambém escrevo contos
http://narrativasilicitas.blogspot.com.br/
e prosas poéticas
http://diariodopassaro.blogspot.com.br/
Depois confere lá!
Abraços!
Muito obrigado pelo comentário, Daniel. Já conferi seu blog e gostei bastante, você escreve ótimos textos.
ExcluirAbraços.
Demais!
ResponderExcluirNão vi o filme The Wal, então, não reconheci as semelhanças. Quanto ao conto: você descreveu bem o que acontece na cena, com isso, conseguimos nos identificar com o personagem e o acompanhar como se estivéssemos ao lado dele. Pena que a história é triste, mas a vida nem sempre é feita de alegrias.
ResponderExcluirBeijos.
Cila- Leitora Voraz
http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/