3 de setembro de 2013

Conto: Um Momentâneo Lapso de Razão


Olá para todos. Hoje venho com algo um pouco mais diversificado do que as minhas antigas postagens, mesmo que estas tenham sidas, por si mesmas, bem diferentes. Por mais breve que seja o tempo de existência do blog, ele já conseguiu adquirir um certo reconhecimento e já possui um devido público, e por isso quero mostrar um conto para vocês. Irei aproveitar o espaço do blog e postar um conto de minha autoria que deixei guardado no baú por mais ou menos um ano. Ele foi escrito totalmente baseado na banda de rock progressivo Pink Floyd, para quem já assistiu o filme da banda, The Wall, conseguirá notar algumas semelhanças entre este personagem e o do filme, mas não é a única referência, também acrescentei várias passagens, tanto com os nomes dos álbuns da banda quanto de trechos das próprias músicas. Espero que gostem :D.

Um momentâneo lapso de razão

Acendi um cigarro.
Apenas acendi e deixei-o apoiado sobre o cinzeiro.
Permaneci sentado.
O vento gelado entrava pela porta de vidro da minha varanda, fazendo com que as cortinas dançassem, como se esse fosse o motivo delas estarem ali.
Mas não me movi.
Tudo que eu conseguia fazer naquele quartinho imundo da minha casa de quatro cômodos era fitar a minha cama. A nossa cama. A cama em que nós juramos amor eterno um ao outro. A cama que agora não passava de um amontoado de roupas e lençóis amarrotados sobre o meu suor frio de todas as noites.
Então um momentâneo lapso de razão passou pela minha cabeça.
Levantei-me lentamente, como se todo o mundo tivesse parado para assistir um fracassado com a barba suja fazer um único movimento. Meu corpo inteiro tremia, como se os meus ossos não me aguentassem.
Caminhei em direção à minha cama. A nossa cama.
Caí de joelhos como se tivesse sido arrebatado pelo fio cortante de uma espada em minhas costas.
Apertei os lençóis contra o meu corpo com tanta força, como se nada naquele mundo pudesse intervir entre nós.
Rolei para a direta da cama até sentir meu ombro batendo sobre o chão molhado pela água do banheiro. Porém, segurava os lençóis como se fossem relíquias.
Arrastei-me até a parede e ia me empurrando contra a ela até ficar de pé.
Repentinamente ouço barulhos de passos na varanda, que penetraram em meus ouvidos como se fosse o som da divisão de um sino.
“Tem alguém ai fora?”
“Vera?”
“Vera, você está aí?”
Tomado pelo choque do momento, corri em direção à varanda, parecendo uma criança correndo em direção a árvore na manhã de natal.
Eram apenas dois cachorros.
Dois animais andando pela varanda e indo embora, levando com eles a minha vazia esperança de tê-la de volta. Senti-me sozinho, como um flautista nos portões da madrugada.
Atirei-me à grama molhada de orvalho, arrancando-as pela raiz. Aquilo parecia terapêutico.
O céu estava obscuro pelas nuvens. Mas conforme as nuvens iam se movimentando, eu conseguia ver a bela imagem da lua. Parecia a primeira vez que via a lua desde que ela me abandonou.
Desde o dia que ela saiu de meus braços.
A luz do luar entrou em mim.
Esticava meus braços.
Queria alcançá-la.
Por mais distante que ela estava de mim, mais queria senti-la.
O que via não era o bastante, queria explorá-la, queria conhecer o lado negro da lua, queria pisar sobre seu chão arenoso e vasculhar suas rochas.
Mas sabia que tudo isso era impossível. Impossível como se houvesse um muro invisível que o impedia.
“Vera.”
“Vera.”
“O que aconteceu com você?”
“Por que me abandonou? Não me deixe agora.”
Pus-me de cócoras, levantei com um salto e me arrastei para dentro, sem tirar os meus pés do chão.
Este é o corte final.
Joguei-me, novamente, na cadeira de armar.
Meu cigarro já havia apagado.
Acendi outro, e coloquei-o sobre o cinzeiro.
Olhei para o chão e localizei o jornal amassado, da semana anterior, que eu havia lançado pelos ares.
Desamassei-o e li a pagina do obituário.
Uma lágrima escorreu pelo meu rosto.
Como eu queria que você estivesse aqui.


Comentários
5 Comentários

5 comentários:

  1. Oi Mikael, que conto ótimo! Adorei o post... No meu blog toda quinta tem uma crônica, acho muito gostoso divulgar esse tipo de texto!

    Abraços, Isabela.
    www.universodosleitores.com

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  2. Muito bom o conto e o blog também. Parabéns!
    Também escrevo contos
    http://narrativasilicitas.blogspot.com.br/
    e prosas poéticas
    http://diariodopassaro.blogspot.com.br/
    Depois confere lá!
    Abraços!

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    1. Muito obrigado pelo comentário, Daniel. Já conferi seu blog e gostei bastante, você escreve ótimos textos.
      Abraços.

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  3. Não vi o filme The Wal, então, não reconheci as semelhanças. Quanto ao conto: você descreveu bem o que acontece na cena, com isso, conseguimos nos identificar com o personagem e o acompanhar como se estivéssemos ao lado dele. Pena que a história é triste, mas a vida nem sempre é feita de alegrias.
    Beijos.
    Cila- Leitora Voraz
    http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/

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